A professora Valdira das Neves e seu filho, Marcelo das Neves, estão prestes a realizar dois sonhos simultâneos: ele se tornará pai e ela, avó. Aos 45 anos, Valdira está gestando os filhos de seu filho. "As pessoas me perguntam: você se sente mais mãe ou avó? Eu respondo que me sinto ambas ao mesmo tempo. Vou ser mãe por gerar e avó de sentimento. Uma 'mãe-avó'", brinca Valdira, destacando a singularidade dessa experiência.
O procedimento pelo qual Valdira está passando é conhecido como "barriga solidária". Os médicos uniram os espermatozoides de Marcelo aos óvulos de uma doadora anônima, realizando a fertilização in vitro. Posteriormente, dois embriões foram transferidos para o útero de Valdira, iniciando a jornada que agora celebram.
Chegar a este ponto, no entanto, não foi fácil para a família.
Marcelo revelou à família seu sonho de ser pai desde a adolescência e decidiu encorajar sua mãe a tentar novamente. "Eu vi a tristeza se acumulando nela após a perda da minha irmã. Ver minha mãe sofrer me afetava profundamente. Então, eu a incentivei a considerar ter outro filho", conta Marcelo, mostrando o profundo vínculo e a compreensão entre os dois.
Valdira, ciente de que não poderia ter um filho biológico de forma natural, aceitou a proposta de Marcelo.
Para se preparar, Valdira tratou a tireoide, passou por exames regulares e ambos se submeteram a acompanhamento psicológico. O processo foi longo, durando dois anos e incluindo quatro tentativas de fertilização. Quando já estavam quase desistindo, receberam a notícia que mudaria suas vidas.
No dia decisivo, Marcelo comprou um teste de farmácia por precaução. "Assim que minha mãe fez o teste, apareceram duas linhas indicando o positivo. Ela gritou: 'deu, deu!' e nós nos abraçamos emocionados".
A gestação de Valdira é considerada de alto risco devido à sua idade e ao fato de estar carregando gêmeos. "É necessário um pré-natal especializado, com riscos de parto prematuro e possíveis complicações como diabetes gestacional e hipertensão", explica a Dra. Camilla Vidal, do Centro de Fertilidade de Ribeirão Preto, responsável pelo acompanhamento do caso. A previsão é que os bebês, Noah e Maria Flor, nasçam até setembro.
A empresa onde Marcelo trabalha concedeu-lhe uma licença-maternidade de cinco meses, permitindo-lhe estar presente nos primeiros meses de vida dos filhos. Embora o registro de paternidade seja exclusivamente no nome de Marcelo, a alegria e a responsabilidade serão compartilhadas por ele e por Valdira, cuja experiência e amor certamente fortalecerão essa família única.