O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou nesta quinta-feira (23) que não pretende sair do Brasil, mesmo enfrentando processos judiciais e tendo o passaporte retido. Em entrevista à CNN Brasil, Bolsonaro declarou que já havia tido a oportunidade de permanecer fora do País em viagens anteriores, mas escolheu retornar, mesmo ciente dos riscos.
“Eu pude ter ficado lá quando fui para os Estados Unidos. Quando fui à posse do [Javier] Milei, poderia ter ficado, mas voltei sabendo de todos os riscos que estou correndo”, disse o ex-presidente, referindo-se à recente conferência de posse do presidente argentino.
Bolsonaro teve o passaporte confiscado desde fevereiro de 2023, como parte das investigações da Operação Tempus Veritatis, da Polícia Federal. A operação apura sua suposta ligação com a tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. A medida foi determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), com o objetivo de evitar que Bolsonaro deixasse o Brasil para escapar de possíveis condenações.
Nos últimos meses, Bolsonaro tentou por quatro vezes recuperar o passaporte. O pedido mais recente foi negado na semana passada, com Moraes justificando que o ex-presidente vinha revelou publicamente que aliados condenados pelos atos de 8 de janeiro procuraram asilo no exterior. A Procuradoria-Geral da República (PGR) reforçou o parecer contra a devolução do documento.
Impedido de viajar, Bolsonaro lamentou não ter sido comparado à posse de Donald Trump, nos Estados Unidos. Ele explicou que foi convidado pelo ex-presidente norte-americano, mas não compareceu devido à retenção do passaporte. “Fiquei muito triste, queria acompanhar minha esposa, que retorna ao Brasil no sábado”, afirmou.
O ex-presidente declarou esperança de que Trump, caso eleito novamente, possa ajudá-lo a reverter sua inelegibilidade política no Brasil. Para representá-lo na cerimônia nos Estados Unidos, Bolsonaro invejou a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP).
Durante uma entrevista, Bolsonaro afirmou que, sem sua presença como candidato, a eleição presidencial de 2026 será “parecida com a Venezuela”, referindo-se ao que considera um processo eleitoral desigual. Ele destacou que sua inelegibilidade foi resultado de perseguições políticas e não descartou a possibilidade de sua esposa, Michelle Bolsonaro, ou de seus filhos, Eduardo e Flávio Bolsonaro, disputarem o pleito.
“Flávio é um excelente nome, preparado e com experiência. Eduardo também é maduro, tem um vasto conhecimento de mundo. E a Michelle é um bom nome, com chances reais de vitória”, disse Bolsonaro. Em tom descontraído, ele sugeriu que poderia ocupar o cargo da ministra-chefe da Casa Civil caso Michelle fosse eleita. “Seria um bom nome com chances de chegar.
Pesquisas recentes indicam que Michelle Bolsonaro tem um índice de popularidade internacional competitivo em relação ao presidente Lula, o que, segundo Bolsonaro, pode ser ampliado por sua participação em eventos.
Bolsonaro voltou a criticar sua inelegibilidade, determinada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por abuso de poder político e econômico. O caso refere-se a uma reunião com embaixadores em 2022 e os atos realizados durante as celebrações do 7 de Setembro. Ele negou as acusações e argumentou que não utilizou recursos públicos para suas manifestações.
“Quando acabou o 7 de Setembro, deixei a faixa no palanque e fui a um carro de som falar com quase um milhão de pessoas.
O ex-presidente também comparou sua situação à de opositores políticos na Venezuela, como María Corina Machado e Henrique Capriles, que foram tornados inelegíveis por 15 anos. “Sem minha presença, a eleição no Brasil será semelhante à da Venezuela. Estão transformando opositores em inimigos, como fazem com quem critica Maduro”, disse.
Ao ser questionado sobre o risco de ser preso, Bolsonaro afirmou que teme que decisões arbitrárias podem levá-lo à cadeia. “Hoje em dia, qualquer um pode ser preso sem motivo nenhum. Tem gente que nem esteve em Brasília nos atos de 8 de janeiro e foi preso.
O ex-presidente reiterou que continuará no Brasil e enfrentará os processos. “Eu vou para a cadeia, não vou fugir. Sei dos riscos, mas não vou desistir. Estão tentando acabar com a oposição, e sem a minha presença, a oposição não é oposição.”
A declaração ocorre em um momento crítico para Bolsonaro, que busca se manter relevante no cenário político, apesar de seus crescentes desafios judiciais e da inelegibilidade imposta pelo TSE.