O ex-presidente Jair Bolsonaro, alvo de investigações que abalam sua reputação política, declarou em entrevista recente sentir-se constantemente sob vigilância, referindo-se à possibilidade de uma abordagem da Polícia Federal (PF) a qualquer momento. “Eu acordo todo dia com a sensação da PF na porta. Qual acusação? Não interessa”, afirmou Bolsonaro em conversa com o canal Auriverde Brasil.
A declaração ecoa um misto de preocupação e descontentamento em meio aos desdobramentos de três inquéritos em que ele figura como investigado: a tentativa de golpe de Estado, a suposta falsificação de cartões de vacinação e a controversa venda de joias recebidas da Arábia Saudita.
Bolsonaro tornou-se alvo de intensas apurações conduzidas pela Polícia Federal e supervisionadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Entre as acusações, destaca-se o indiciamento pela possível adulteração de registros de vacinação contra a Covid-19, supostamente para beneficiar aliados e familiares. Além disso, a apuração sobre as joias sauditas envolve possíveis irregularidades no tratamento de presentes de alto valor, que deveriam ter sido incorporados ao patrimônio da União.
O inquérito relacionado ao golpe de Estado, por sua vez, investiga uma suposta conspiração para subverter a ordem democrática após a derrota de Bolsonaro nas eleições de 2022. O ex-presidente e aliados próximos são apontados como articuladores de movimentos que culminaram nos ataques às sedes dos Três Poderes, em 8 de janeiro de 2023.
Durante a entrevista, Bolsonaro lamentou não ter comparecido à posse do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em 2017, fato que ele acredita ter prejudicado seu relacionamento com líderes globais.
“Eu queria estar nos Estados Unidos para ter essas conversas (com líderes). Nunca pensei em sair do meu país em definitivo. Eu saí lá atrás e poderia ter ficado”, afirmou.
Atualmente, o ex-presidente encontra-se impedido de viajar para o exterior, devido à retenção de seu passaporte pelo STF. A medida busca garantir que ele permaneça disponível para responder às investigações em curso, incluindo o caso do golpe de Estado.
A fala reforça a importância que Bolsonaro atribui ao alinhamento com Trump, com quem compartilha visões políticas.
As declarações de Bolsonaro geram controvérsias, dividindo opiniões entre apoiadores e críticos. De um lado, há quem enxergue nas palavras do ex-presidente um tom de perseguição política, argumento frequentemente utilizado por ele e sua base. Por outro, especialistas apontam que os casos são tratados com rigor técnico pelas autoridades, respaldados por evidências consistentes.
A constante referência ao “cerco” policial também traz à tona debates sobre o papel de figuras públicas em processos judiciais. Para muitos, Bolsonaro utiliza o discurso como estratégia de vitimização, buscando manter sua relevância política enquanto enfrenta acusações que podem comprometer seus planos de voltar ao poder.
Com a possibilidade de novos desdobramentos nos inquéritos, o futuro político de Jair Bolsonaro permanece incerto. Se condenado, ele poderá enfrentar penalidades que variam desde multas e restrições até a inelegibilidade, afastando-o das urnas em 2026.
Enquanto isso, sua base de apoio segue mobilizada, embora menor em comparação aos momentos de auge político. Manifestantes pró-Bolsonaro frequentemente expressam insatisfação com o Judiciário, acusando-o de parcialidade nas investigações.
Por outro lado, a oposição vê nos inquéritos uma oportunidade de responsabilizar o ex-presidente por atos que consideram atentatórios à democracia. Para muitos, o sucesso dessas investigações é crucial para reforçar a credibilidade das instituições brasileiras e impedir a repetição de episódios como os ataques de 8 de janeiro.
A sensação de estar na mira da PF, expressa por Bolsonaro, é um reflexo do cenário em que se encontra: um político que enfrenta acusações graves, mas que tenta se manter como figura central no debate público.
Seja como réu ou líder político, Bolsonaro parece disposto a lutar por sua versão dos fatos, mobilizando sua base e desafiando as instituições que o investigam. O desenrolar desses processos será um marco não apenas para seu futuro, mas também para o fortalecimento ou fragilização da democracia no Brasil.