A Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (Iarc), braço da Organização Mundial da Saúde (OMS), classificou o talco como "potencialmente cancerígeno".
O estudo realizado por pesquisadores da França foi publicado na revista científica The Lancet Oncology, e os detalhes completos estarão no Volume 136 das Monografias da Iarc, previsto para 2025.
O talco — substância utilizada em cosméticos, pós para o corpo e outros produtos de consumo — foi classificado pela Iarc no Grupo 2A, indicando que a substância é provavelmente carcinogênica para humanos.
Os especialistas responsáveis pelo estudo destacam que a exposição ao talco pode ocorrer de diversas formas.
No ambiente ocupacional, os riscos são maiores durante a extração, moagem ou processamento do mineral, além da fabricação de produtos que contenham talco. Para a população em geral, a exposição mais comum ocorre por meio do uso de cosméticos e pós corporais que contêm a substância.
Em relação às evidências em seres humanos, a Iarc afirmou em nota que "vários estudos mostraram consistentemente um aumento na incidência de câncer de ovário em mulheres que relataram o uso de talco na região perineal".
Esse aumento no risco de câncer de ovário constatado é uma das principais preocupações que motivou a classificação do talco como potencialmente perigoso para a saúde humana.
Apesar das evidências, especialistas apontam que os estudos sobre o tema ainda enfrentam certos vieses.
Um exemplo seria uma síntese de pesquisas publicada em janeiro de 2020, que analisou dados de 250 mil mulheres nos Estados Unidos e não encontrou uma ligação estatística robusta entre o uso de talco nos órgãos genitais e o risco de câncer de ovário.
Por outro lado, um estudo mais recente, divulgado no Journal of Clinical Oncology pelos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA, analisou cerca de 50 mil mulheres e encontrou uma relação positiva entre o uso de talco genital e a incidência de câncer de ovário.
"Nossas descobertas apoiam a hipótese de que há uma associação positiva entre o uso de talco genital e a incidência de câncer de ovário, embora não apontem uma causa ou mecanismo específico", afirmaram os autores.
O estudo também levou em consideração na análise que, "em animais experimentais, o tratamento com talco causou um aumento na incidência de neoplasias (câncer) malignas em fêmeas (medula adrenal e pulmão) e uma combinação de neoplasias benignas e malignas em machos (medula adrenal) de uma única espécie (rato)".
A agência enfatizou a necessidade de cautela e mais pesquisas para avaliar completamente os riscos associados ao uso de talco.
Essa nova avaliação substitui as classificações anteriores da Iarc sobre o “talco não contendo amianto ou fibras asbestiformes” e o “uso perineal de pó corporal à base de talco”, que já indicavam uma possível ligação com o câncer, mas com menor grau de certeza.
A entidade alega que a comunidade científica e as indústrias que utilizam talco deverão observar atentamente essas novas diretrizes.
Nos últimos anos, muitos fabricantes adotaram fórmulas que utilizam amido de milho e segundo a Sociedade Americana de Câncer, não há qualquer evidência de que essas versões de talco causem câncer.