No início do ano, o Norte do Piauí foi palco de uma tragédia que abalou a cidade de Parnaíba. Nove membros de uma mesma família foram envenenados após consumirem um baião de dois no almoço de Ano Novo, em 1º de janeiro. Quatro deles morreram, e uma menina de 4 anos permanece internada em estado grave. O caso, que inicialmente parecia um acidente alimentar, revelou uma história de ódio e relações familiares conturbadas, culminando na prisão de um dos próprios parentes como principal suspeito.
Tudo começou na noite de Réveillon. A família preparou uma ceia com carne, feijão tropeiro e baião de dois. A comemoração transcorreu normalmente, e nenhum dos presentes apresentou sintomas após a refeição.
Poucos minutos após a refeição, os sintomas de envenenamento começaram a aparecer. Vômitos, convulsões e falta de ar foram os primeiros sinais de que algo estava gravemente errado. Nove pessoas, incluindo crianças, precisaram de atendimento médico urgente.
Entre os afetados, estava Francisco de Assis Pereira da Costa, de 53 anos, marido da matriarca Maria dos Aflitos, de 52 anos, que não almoçou porque estava dormindo. Tragicamente, quatro membros da família não resistiram:
Manoel Leandro da Silva, de 18 anos;Inicialmente, suspeitava-se que o envenenamento tivesse origem nos peixes doados ao almoço, mas essa hipótese foi descartada após exames periciais. O laudo emitido pelo Instituto Médico Legal (IML) no dia 5 de janeiro revelou que o veneno estava no baião de dois, contaminado com uma substância altamente tóxica conhecida como terbufós, um veneno agrícola de uso restrito.
Com essa descoberta, as investigações tomaram um novo rumo, focando em identificar quem teria adulterado a comida.
Na quarta-feira, 8 de janeiro, Francisco de Assis Pereira da Costa, de 53 anos, foi preso como principal suspeito. Segundo a Polícia Civil, Francisco confessou nutrir ódio e nojo pela enteada, Francisca Maria da Silva, e pelos filhos dela. Em depoimento, ele descreveu os netos como “primatas” e admitiu ter um relacionamento conturbado com toda a família da esposa.
O delegado Abimael Silva relatou que o acusado não conseguiu esconder o desprezo nem mesmo ao falar sobre Francisca, que já estava morta. “Ele disse que, ao olhar para ela, sentia nojo e raiva”, afirmou.
A tragédia não é um caso isolado para Francisca Maria. Em 2023, dois de seus filhos, João Miguel, de 7 anos, e Ulisses Gabriel, de 8 anos, morreram envenenados com a mesma substância.
Lucélia segue presa, mas o caso deixou marcas profundas na família, que agora enfrenta mais uma perda devastadora.
O veneno utilizado, o terbufós, ataca o sistema nervoso central e pode causar convulsões, falta de ar e morte em poucos minutos. A substância é tão potente que pequenas doses são suficientes para causar danos graves, especialmente em crianças.
A Polícia Civil segue analisando o caso e espera os resultados de exames de sangue de Francisco de Assis para confirmar se ele também ingeriu o baião contaminado ou se fingiu os sintomas de envenenamento.
O caso gerou comoção e indignação em Parnaíba e em todo o Piauí. A comunidade exige justiça, enquanto os sobreviventes tentam lidar com a perda irreparável de seus entes queridos. O casal que doou os peixes à família, inicialmente suspeito, também sofreu ameaças e precisou se afastar das redes sociais.
A tragédia expõe não apenas os perigos do uso indevido de venenos agrícolas, mas também os impactos devastadores de conflitos familiares não resolvidos. Em meio à dor e à busca por respostas, a história serve como um alerta para a importância de promover a convivência harmoniosa dentro de casa e combater o acesso ilícito a substâncias tão letais.