Na cidade onde o sol da tarde projetava raios dourados através das janelas, um dia aparentemente rotineiro na clínica da doutora Helena Freitas acabou tomando um rumo inesperado. Com seus cabelos presos em um coque um tanto desalinhado, Helena já estava acostumada com as visitas diárias de pacientes que iam de resfriados comuns a diagnósticos mais complexos. No entanto, nada poderia prepará-la para o que estava prestes a descobrir naquele dia.
Era quinta-feira e Luísa, uma menina de apenas seis anos, havia chegado ao consultório acompanhada de sua mãe, a elegante Cláudia. Enquanto Cláudia mexia em seu celular, Luísa brincava silenciosamente com um chaveiro de ursinho, completamente alheia ao impacto que sua visita estava prestes a causar.
As consultas de rotina eram sempre tranquilas, mas algo claramente perturbava Helena. Luísa parecia encolhida, quase como se estivesse tentando se esconder do mundo. Ao iniciar o exame, tudo parecia normal, até que a doutora chegou à parte final do procedimento e foi surpreendida. Havia marcas ali, pequenas cicatrizes que não deveriam estar no corpo de uma criança tão pequena.
Com o coração disparado, Helena tentava entender por que a mãe não havia notado nada de estranho. Cláudia, com um riso nervoso, atribuiu os hematomas às frequentes quedas na escola. Mas algo não estava certo, e Helena sabia disso. Decidida, ela mencionou sua preocupação: "Dona Cláudia, essas marcas não parecem resultado de uma simples queda.
A tensão aumentou. O olhar de Luísa, embora repleto de medo, silenciosamente pedia ajuda. O que Cláudia via como uma situação banal desencadeava sérios alarmes para a médica: era hora de agir, mas como fazer isso sem provas concretas? Assim que a porta do consultório se fechou, a dúvida pairava sobre Helena, acompanhada de um senso de responsabilidade esmagador.
Sentada em sua poltrona favorita naquela noite, com uma xícara de chá esfriando ao lado, Helena não conseguia afastar da mente o olhar carregado da pequena Luísa. Sabia que precisaria ser cuidadosa e buscou orientação de Gabriela, uma assistente social de confiança. O plano era marcar uma nova consulta, fornecendo a oportunidade perfeita para intervir, se necessário.
Enquanto isso, a tensão na casa de Cláudia e Rafael, o marido, era palpável.