Naquele dia, os corredores frios do hospital foram palco de uma cena tão angustiante quanto surreal. Álvaro, com o rosto coberto de suor e uma expressão de desespero, irrompeu pelos corredores com uma menina em seus braços. Aquela menina, que não aparentava ter mais de nove anos, parecia agarrada à vida. Seu corpo infantil estava inchado de maneira grotesca, um testemunho silencioso de uma realidade que jamais deveria pertencer a alguém tão jovem.
Com os olhos arregalados, repletos de pavor, Cecília lutava para respirar. A agonia que se espalhava por seu pequeno corpo era palpável, um eco perturbador que ressoava entre os murmúrios de incredulidade dos presentes. Álvaro clamava por socorro, sua voz entrecortada pelo terror e pela culpa que pareciam subjugá-lo a cada pedido de ajuda.
As enfermeiras, paralisadas pela cena que se desenrolava diante de seus olhos, finalmente se entreolharam, lutando para manter o profissionalismo diante da monstruosidade da situação. "Ela está em trabalho de parto", gritou Álvaro, e suas palavras caíram como uma bomba, roubando o fôlego de todos. Como alguém tão jovem poderia estar dando à luz? A urgência tomou conta do ambiente, quebrando o transe momentâneo.
Enquanto a pequena Cecília era preparada para a cirurgia, o murmúrio na sala de espera dos acompanhantes começou a crescer, transformando-se rapidamente em um tribunal involuntário. Acusações silentes se espalharam, cada olhar carregava um julgamento, e Álvaro, sentado em um canto, sentiu o peso das palavras não ditas.
Do lado de dentro, o médico veterano se preparava para um dos procedimentos mais desafiadores de sua carreira. Determinado a salvar Cecília, ele começou a operação com uma promessa silenciosa de proteção. Enquanto isso, fora, a situação esquentava. Uma mulher, cheia de indignação, apontou para Álvaro, exigindo justiça. Quando um homem se levantou para confrontá-lo fisicamente, a intervenção rápida da enfermeira Olga evitou que a tensão se transformasse em violência.
A tensão começou a desvanecer quando os policiais chegaram, convidados pelo clamor crescente por justiça. Álvaro foi levado para responder perguntas, deixando para trás Cecília nas mãos dos profissionais que prometiam fazer de tudo para ajudá-la.
Aquela cena de dor e desespero deixou a marca de um dia que muitos naquele hospital jamais esqueceriam, uma lembrança perturbadora do impacto devastador que algumas verdades podem carregar.